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Marco Artigas

marco.artigas@estudioartigas.com

Arquiteto, sócio no Estúdio Artigas e Hipocampo, São Paulo-SP, Brasil.

 

Para citação:

ARTIGAS, Marco. Futuras Preexistências: Olhares em transformação. Estudo Prévio 26. Lisboa: CEACT/UAL – Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa, 2025, p. 117-125. ISSN: 2182-4339 [Disponível em: www.estudoprevio.net]. DOI: https://doi.org/10.26619/2182-4339/26.15

Recebido a 14 de maio de 2025 e aceite para publicação a 30 de maio de 2025.

Creative Commons, licença CC BY-4.0: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

Futuras Preexistências: Olhares em transformação

 

Resumo

A preexistência pode ser concebida não apenas como um dado do passado, mas como uma construção do futuro—fragmentos que, um dia, serão ruínas e referências para novas interpretações espaciais. Com essa abordagem, o escritório Estúdio Artigas/Hipocampo é convidado a refletir sobre a relação entre presente e futuro na arquitetura, explorando como as decisões projetuais de hoje delineiam o que será preexistente amanhã. Trata-se de um exercício de antecipação, onde a materialidade e o conceito do projeto já contêm as sementes de sua própria permanência ou transformação.

O Estúdio Artigas, através do Hipocampo, entende que a arquitetura contemporânea enfrenta um processo de transformação crítica diante da emergência climática, exigindo a revisão de práticas, valores e responsabilidades profissionais para articular estratégias que conciliem impacto ambiental, justiça social e experimentação projetual. Nesse cenário, a crise climática se apresenta como um fator central na redefinição do papel da arquitetura, impulsionando a busca por abordagens que integrem regeneração ambiental, redução de resíduos e adaptação a novos paradigmas socioecológicos.

 

 

Palavras-chave: preexistência, futuro, emergência climática, adaptação, Sul Global.

 

 

 

 

Assumamos, não como consolo, que escaparemos do desenvolvimento – e do capitalismo – arrastando muitas das suas correntes, e que será um caminho longo e tortuoso, com avanços e retrocessos, cuja duração e solidez dependerá da ação política para assumir o desafio” Alberto Acosta, O Bem Viver: Uma oportunidade para imaginar outros mundos, 2012.

 

 

A arquitetura dificilmente não arrastará as correntes do desenvolvimento ao buscar novas formas de enfrentar os desafios impostos pela emergência climática.

As ideias apresentadas por nós, durante o primeiro evento Na Ponte, realizado no final de semana de 13 de setembro de 2024, trouxeram à tona discussões sobre questões contraditórias e essenciais no contexto da produção arquitetónica contemporânea e nos seus desafios.

Como é possível promover uma transição prática em uma sociedade onde vaidades e desejos frequentemente se sobrepõem à urgência da crise climática? É viável a coexistência de práticas com objetivos conflitantes, ou o próprio fazer arquitetónico, o desenho em si, seria o elo capaz de conectar diferentes formas de ação?

A base das discussões foi uma linha do tempo (figura 1 – linha do tempo) que ilustra as atividades desenvolvidas no campo ampliado da arquitetura desde 2013 até o presente, com projeções para os próximos anos. Nessa trajetória, nota-se uma transformação de perspetiva a partir de 2019.

Nesse ano, uma viagem pela Transamazônica, realizada no contexto de uma pesquisa sobre o desmatamento na região do assentamento do Tuerê, no município de Novo Repartimento, estado do Pará, combinada com a leitura do livro “A Terra Inabitável”, de David Wallace-Wells, abriu uma porta impossível de fechar: qual é a nossa responsabilidade profissional diante da crise climática? O que nós, enquanto arquitetos, precisamos fazer para enfrentar o caos iminente que testemunhamos?

Essas questões tornam-se ainda mais complexas para profissionais cuja prática arquitetónica está, predominantemente, inserida em contextos de privilégio, onde os fins e os valores podem ser conflitantes. Esse cenário exige uma reflexão profunda sobre o papel social da arquitetura e o compromisso ético da profissão frente à emergência climática.

Para a compreensão do texto é importante a leitura das legendas abaixo, referentes à Figura 1 – Linha do Tempo e à Figura 2 – Flutuante.

Figura 1 – Linha do tempo (fonte: Marco Artigas)

 

 

EA: Estúdio Artigas, criado em 2013. Escritório de arquitetura com projetos predominantemente para a iniciativa privada, mas com alguns projetos realizados para o poder público.

AP: O Curso Livre Arquitetura Paulistana, existiu de 2013 a 2019. Nesses anos o objetivo era discutir a produção arquitetónica contemporânea, por meio de visitas a edifícios projetados dos anos 2000 em diante, sempre na presença da arquiteta ou arquiteto que desenvolveu o projeto. O curso é interrompido na pandemia e volta em 2024, mas com o olhar voltado para as mudanças climáticas e direitos humanos.

IAB: Instituto de Arquitetos do Brasil.

ASG: Curso Livre Arquiteturas do Sul Global. Organizado em sociedade com o arquiteto Pedro Vada e parceria com a Escola da Cidade, o curso foi realizado de modo remoto durante a pandemia de coronavírus. Tinha como objetivo criar uma rede de reflexão sobre temas pertinentes à produção académica e prática da arquitetura, por meio de conversas com arquitetas e arquitetos de diferentes países do Sul Global.

Figura 2 – Flutuante (fonte: Hipocampo)

 

 

Hipocampo: Prática experimental no campo ampliado da arquitetura e com atividades no cenário do audiovisual criado em 2019. Suas ações buscam transformar o planeta num lugar adaptado às mudanças do clima, lutando para reduzir as desigualdades sociais. Referência de projeto realizado pelo Hipocampo é o flutuante sobre o Rio Madeira, em parceria com a Oca Amazônia.